• A revista
  • Colaboradoras
  • Colaboradores
  • Sidnei Vares

Parâmetro

~ cultura & sociedade

Parâmetro

Arquivos Mensais: julho 2011

Fernando Pessoa e Manuel Bandeira

23 sábado jul 2011

Posted by Rudinei Borges in + Literatura & Artes, + Livros

≈ Deixe um comentário

Tags

Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Poesia, Poesia Brasileira, Poesia portuguesa

Por Felipe Garcia de Medeiros

Poesia Brasileira: origens e laços

 A poesia brasileira de origem Lusitânia, iniciada com a chegada dos jesuítas, tendo como precursor o padre José Antônio de Anchieta e, desde o início, viu-se cada vez mais distante da sua gênese confusa e, com o tempo, adquiriu cheiros e sabores típicos e nacionais. Uma nova forma de ver o Brasil foi resgatada quando, em Portugal, Camões publicara Os lusíadas (1572) – ainda não se pensava com um carinho especial no paraíso que havia do outro lado do oceano pacífico. A descoberta e ocupação portuguesa trouxeram, além de exploradores, cânones literários, e Luís Vaz de Camões transmitiu para nação brasileira, similarmente como Homero o fez para Virgílio, quando este, inspirado no grego, escrevera a Eneida, o sentimento de pátria e de expressão única, nacional, e ontológica da terra. Influências ultramarinas, épicas ou líricas, moldaram, no ápice do romantismo brasileiro, a busca pelo espírito nacional – embora essa tentativa de resgate tenha sido, na verdade, uma espécie de “cópia pitoresca” do que se fazia do outro lado do oceano, Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, vivendo ambos, boa parte do tempo na Europa, conseguiram atingir relativa sensibilidade do sentimento nascente brasileiro.

A tradição portuguesa de poemas heroicos, de traços clássicos ou de modelos tradicionais de poesia como o soneto – de suposta origem italiana, tendo como inventor o poeta Petrarca (traduzido e lido por Camões) foi se afastando da brasileira, a cada passo, traços tênues, mas decisivos, contribuíram para a formação do gênio brasileiro. Os temas foram os responsáveis para uma diferenciação inicial, ou distanciamento, da mentalidade europeia. Os poetas românticos brasileiros cantaram nossos pomares, o índio, a amada, o céu brasileiro, e o tema da Saudade na poesia de Casimiro de Abreu e Gonçalves Dias – tema caro aos portugueses bem depois, em meados de 1910, com o saudosismo daquela época de ouro camoniana. Manifestações literárias formais, como a escritura de epopeias, foram tentativas de imprimir, na forma poética, o espírito nacional.

Apesar de esse gênero fundador não suspirar com conforto em terras brasileiras, foi de extrema relevância para a construção de um grau maior de consciência e potencial de um país que está brotando, visões importantes para o estabelecimento de uma nova terra nascente. Portanto, como pensar em poesia brasileira? Se pensarmos em que aquela carta de Pero Vaz de Caminha foi, na verdade, nosso testamento, as verdadeiras, ou mais maduras produções brasileiras, aconteceram na semana de arte moderna brasileira em 1922. O manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade, redirecionou a visão que o brasileiro tinha de imitar, sempre, o estrangeiro. Sofremos influências, sim, mas, não apenas copiamos ou reproduzimos mecanicamente; raciocinamos e, o que for inútil, é severamente descartado. Assim, pode-se pensar, sem prejuízos para qualquer literatura, numa relação proveitosa entre a literatura brasileira e a literatura portuguesa – um diálogo sincero e instigante que será feito neste artigo, entre Fernando Pessoa (o pai) e Manuel Bandeira (o filho), e como isto é importante para o ensino da literatura portuguesa no Brasil, enriquecedor.

Qualquer semelhança é mera sina

Nada mais relevante do que pensar o poeta – sua vida, seu corpo, suas desilusões estéticas ou amorosas, assim como diz Coelho (1973), apenas para criar a atmosfera adequada à leitura e conseqüente análise, podemos referir-se à pessoa do poeta. A vida de um homem é tão importante quanto sua obra – embora a primeira seja passageira e a outra não – existe algo de eterno em cada uma delas. Fernando Pessoa dizia que viver não é necessário, necessário é criar e Manuel Bandeira chegou a declarar que passara a vida à toa, à toa. O poeta vive em um contexto, num período situado historicamente, portanto, nada mais relevante do que pensá-lo com mais atenção e cuidado, os hiatos entre a vida e a obra, os silêncios e os vazios em que se movimentam os sentidos e os significados da expressão poética. Antônio Cândido chama a atenção, em O estudo analítico do poema, à importância da figura do poeta quando diz:

Como preliminar, detenhamo-nos um pouco no tipo de homem que faz versos. Antes de mais nada, devemos registrar que ele é dotado de um senso especial em relação às palavras, e que sabe explorá-las por meio de uma técnica adequada a extrair delas o máximo de eficácia. Só a tais homens ocorre o fenômeno chamado inspiração, que é uma espécie de força interior que o leva para certos caminhos da expressão. (CÂNDIDO, 1996:64).

O primeiro objeto da poesia do poeta é o corpo – a própria vida – e, por meio das palavras sabiamente exploradas, ele consegue atingir o efeito perene da poesia. Cândido fala de uma inspiração ou quase dom – como se o poeta, assim como dissera Antero de Quental, recebesse um batismo diferente, capaz de torná-lo exímio artífice na produção do verso. A forma, não apenas o conteúdo, figura como marca ou estigma do verdadeiro poeta.  Esse tipo de homem que faz versos, literalmente, é o de Bandeira e o de Pessoa, pois ambos deram, um por inevitável armadilha do destino e o outro pelo desejo de ser poeta e (será que também por causa do destino?) engrandecer a humanidade com a beleza e a força da poesia. O poeta português Fernando Pessoa “deixou a vida” para viver sua obra, porque sabia que, como Rimbaud dissera, que a verdadeira vida estava ausente, e era muitos para ser pouco na vida; e Bandeira, na incapacidade de expressar a si mesmo no verbo viver, viveu a vida que deveria ser e não foi, para ser habitante da inabitável Pársagada – grande metáfora do ser que, ao invés de viver no mundo, habita em sua própria obra. Ainda em O estudo analítico do poema, Antônio Cândido chama a atenção para essa estranha figura conhecida por nós como poeta e declara:

Há nele uma espécie de sublimação, em tonalidade abstrata e remota, duma forte capacidade de vibrar com o corpo, a vista, o ouvido, o movimento dos membros; uma sensação de negrume, e em geral uma acuidade visual muito intensa. O pensamento viveu poeticamente porque se transpôs em experiência; porque se traduziu em palavras que exprimem uma forte capacidade de visualizar, ou de ouvir, ou de imaginar, que objetiva a vida interior, dando-lhe realidade palpável pelos “olhos da alma”. E com isso o poeta “cria” um mundo seu, a partir do uso adequado das palavras. (CÂNDIDO, 1996:67).

A ideia de sublimação, termo freudiano, será recorrente na crítica literária depois do aparecimento de fortes traços biográficos na obra dos poetas – a estetização da experiência e, a poesia sendo a própria experiência, como diz o crítico, capaz de “vibrar com o corpo, a vista, o ouvido”, colocaram em evidência a vida e o desenvolvimento do sujeito criador de fantasia, além de apenas focarmos em sua obra, como se esta fosse imanente em si mesma e isenta de qualquer a priori. Assim, o poeta cria um mundo seu, vivendo duplamente, sem prejuízos de abandono ou ressentimentos citadinos – e nele vive tão presente quanto no outro mundo – sempre atento e guiado por esses estranhos olhos da alma, de fibras de palavras.

O primeiro poeta que se apresente neste trabalho para um diálogo com o outro é o brasileiro Manuel Bandeira (natural do Recife, 1886-1968). Tornou-se um dos maiores símbolos do modernismo brasileiro – tendo sido recitado por Ronald de Carvalho (também participante do modernismo português) o poema Os sapos, em 1922, na conhecidíssima semana de arte. Desde cedo, Bandeira vê-se mais perto da morte – por causa da tuberculose, doença histórica inscrita no corpo do poeta ainda sem cura naquela época. O pernambucano trazia em si, como diz Barthes em Aula: a estupefação de perceber que “meu próprio corpo era histórico”, devendo esquecer disso para que se tornasse contemporâneo dos seus. A poesia de Bandeira é o constante diálogo entre a tradição e a ruptura, o velho e o novo, a cinza do corpo, o carnaval, a libertinagem. Não se tornou engenheiro, foi para Europa por causa da doença – vivia como se fosse uma “bomba relógio”, num tempo em que não era o do kairós (da presença), mas talvez da incerteza quanto à vida, o próprio rumo da poesia. Poemas como Desesperança (Cinza das horas), Confidência (Carnaval), Felicidade (O ritmo dissoluto) e Pneumotórax (Libertinagem), lembram a temática da desilusão e da morte, além de aspectos da vida do autor e, sem dúvida, do seu corpo enfermo.

Nosso outro autor também teve uma vida conturbada, inspiradora, um corpo cheio de extremidades, fonte eterna de poesia, a do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). Ele viveu a sua obra, fingiu e sentiu a dor que deveras sentia. Para Pessoa, a poesia da terra nunca estava morta: “Há poesia em tudo – na terra e no mar, nos lagos e margens dos rios. Também há a na cidade…”. O sentido da poesia para Pessoa era algo além de escrever versos, representar: “… a poesia é assombro, admiração, como de um ser caído dos céus que toma plena consciência da sua queda, espantado com o que vê”. A realização da obra poética pessoana nunca poderia ter sido concretizada.

O poeta, não conformado com o que é, nunca consegue ser o que sonha ou o que projeta. Devido à natureza mítica e mística de Fernando Pessoa, a sua grande obra sempre seria além da sua projeção. Para tentar abarcar todo o seu gênio criativo, Pessoa usou da Heteronímia: “Não sei quem sou, que alma tenho […] Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única central realidade que não está em nenhum e está em todos”. O heterônimo é uma persona criada pelo poeta que é considerado o ortônimo. Os heterônimos têm nome próprio, vida, biografia e estilo de poesia diferente da do ortônimo.  O lançamento da revista Orpheu (1915) foi o marco inicial do modernismo português, uma revista que durou apenas duas edições, e que escandalizara aquela pequena Lisboa conservadora de 1915.

Diálogos possíveis: consoada e aniversário

Para trabalhar os poemas, partiremos do roteiro feito por Coelho (1973) a ser dado ao aluno em “O ensino de literatura – comunicação e expressão”, que tem como etapas: A leitura lúdica, o esclarecimento lógico do texto, a leitura lógica, a paráfrase, a numeração de linhas e a análise interpretativo-estilística.

 Para início de conversa, vamos lançar um olhar atento sobre o poema Consoada, de Manuel Bandeira, do livro Opus 10 (1952). Sabemos que Bandeira foi um dos principais poetas brasileiros, como vimos acima, e também um dos mais significativos, vivendo o período modernista da literatura brasileira, trazendo traços basilares dessa estética, como o verso livre e branco, os temas do cotidiano e “brasileiros”, a experiência vivida e cantada, além da poesia considerada social com A rosa do povo, de Drummond. Eis o poema:

Consoada

1   Quando a Indesejada das gentes chegar

     (Não sei se dura ou caroável),

     Talvez eu tenha medo.

     Talvez sorria, ou diga:

5    – Alô, iniludível!

     O meu dia foi bom, pode a noite descer.

     (A noite com os seus sortilégios.)

     Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,

     A mesa posta,

10 Com cada coisa em seu lugar.

Será interessante, quando trabalhado em sala de aula, a leitura do poema em voz alta pelo professor, seguida de uma silenciosa pelos alunos e, finalmente, com uma última leitura pelo docente ou discente – a fim de abstrair a sensibilidade do poema, o tom, ouvi-lo e senti-lo nesse primeiro momento. A leitura presentifica o texto, traz à tona os efeitos de presença da palavra e permite ao aluno, sem grandes dificuldades, perceber a diferença entre um texto comum, prosaico, e o texto poético – ritmado, mesmo num ritmo semelhante ao da prosa, mas com uma estrutura bem menor e densamente constituída, utilizando ao máximo, à sua peculiar maneira, a força das palavras.

 Vamos fazer um levantamento do vocabulário do poema, o esclarecimento lógico do texto, e apresentá-lo em um quadro, como abaixo se pode ver:

Vocabulário

Significado

Consoada Substantivo, é considerada uma palavra arcaica, em desuso, e o significado dela é ceia da noite de Natal ou presente que se dá nesse dia.
Indesejada Substantivo adjetivado, não é comumente utilizada, e o seu significado é algo que não se deseja, indesejável, ou quem não se deseja.
Caroável Adjetivo, dificilmente falado, significa amigo, carinhoso, alguém capaz de produzir.
Iniludível Adjetivo, que significa algo não iludível, que não se pode iludir, que é evidente.
Sortilégio Substantivo, significando malefício de feiticeiro ou maquinação.

Em seguida, como o poema de Manuel Bandeira, por ter como característica primordial a simplicidade, a clareza da forma, a economia de recursos técnicos que rebuscam o texto poético, ele dispensa a construção de uma leitura lógica do texto, ou seja, pouquíssimas alterações na ordem sintática canônica, e fluência do texto, tornam desnecessárias reconstituições sintáticas invertidas ausentes, quase totalmente, nesse poema.

O próximo passo é fazer uma paráfrase do poema – utilizar as nossas próprias palavras para dizê-lo de outra maneira. Então, teríamos: Em um dia de Natal, o poeta começar a pensar sobre a vida (parece estar sozinho) e, sobretudo, na morte – que é o fim daquela. Pensando assim, começa a imaginar como seria se ela viesse nesse dia especial, “(Não sei se dura ou caroável)”, e o que diria se a “Indesejada das gentes” chegasse. Parece estar ansioso para esse momento – e diz que o dia festivo foi bom, e a noite é bem vinda, não qualquer noite, mas aquela cheia de sortilégios, magia e mistério. Não importe quando ou como a Indesejada vai chegar, o poeta diz que ela encontrará tudo organizado, lavrado o campo, a casa limpa/ A mesa posta,/ Com cada coisa em seu lugar.

Depois de feito isso, devemos fazer a contagem dos versos – que é de um total de dez – e enumerá-los de cinco em cinco para facilitar a análise no momento da citação do estudo. O poema acima citado foi devidamente enumerado de acordo com nossas premissas.

Em última estância, faremos uma análise interpretativo-estilística: “Quando a… Morte chegar” frase da oralidade do cotidiano, recriada com o adjetivo substantivado Indesejada das gentes – a morte é um fenômeno universal, de toda a gente, e portanto misteriosa – sendo indesejada de todas as maneiras, fato que se consuma nas inúmeras histórias universais com a temática da busca da imortalidade, a ressurreição de Cristo, etc. O advérbio de tempo “quando” realça a ideia de acaso, incerteza, dúvida em relação ao momento de sua chegada inesperada, contrapondo-se à última palavra do primeiro verso: chegar, certeza, verbo de ação, no infinitivo, dialogando com o verso de Álvaro de Campos, que diz: A única conclusão é morrer. A assonância das vogais “a” e “e” revelam uma leveza substancial, logo sendo “abafadas” com a aliteração da consoante oclusiva “d” – reforçando o sentido obscuro e opressor da morte, que é personificada no primeiro verso.

Agora veremos o outro poema transcrito, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, por extenso, para auxiliar a compreensão da análise:

Aniversário

1   No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

     Eu era feliz e ninguém estava morto.

     Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,

     E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

5   No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

     Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,

     De ser inteligente para entre a família,

     E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.

     Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.

10 Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

     Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,

     O que fui de coração e parentesco.

     O que fui de serões de meia-província,

     O que fui de amarem-me e eu ser menino,

15 O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…

     A que distância!…

     (Nem o acho… )

     O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

     O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,

20 Pondo grelado nas paredes…

     O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas [lágrimas),

     O que eu sou hoje é terem vendido a casa,

     É terem morrido todos,

     É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

25 No tempo em que festejavam o dia dos meus anos …

     Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!

     Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,

     Por uma viagem metafísica e carnal,

     Com uma dualidade de eu para mim…

30 Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

     Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…

     A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com [mais copos,

     O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo [do alçado,

     As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,

35 No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .

     Pára, meu coração!

     Não penses!  Deixa o pensar na cabeça!

     Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!

     Hoje já não faço anos.

40 Duro.

     Somam-se-me dias.

     Serei velho quando o for.

     Mais nada.

     Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! …

45 O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…

A leitura lúdica deve ser feita como a do poema anterior – então, partimos para próxima etapa, que é a do esclarecimento lógico do texto, o levantamento do vocabulário, no quadro abaixo:

Vocabulário

Significado

Serões Substantivo, significando trabalho feito à noite ou festa noturna.
Grelado Particípio do verbo grelar, é algo que está mofado; que começou a germinar.
Metafísica Substantivo, doutrina ou ideia da essência das coisas, o que está além do físico.
Loiça Substantivo, significando o mesmo que louça.
Aparador Adjetivo, móvel antigo em forma de armário ou mesa grande.
Algibeira Substantivo, que significa bolso ou saquinho que as mulheres atavam à cintura.

Podemos tomar como paráfrase o seguinte desenvolvimento: O poeta lembra-se da época em que completava anos na infância. Era feliz como todos que completam anos, “ninguém estava morto”. A vida era plena, havia felicidade, não havia morte ou a dor da ausência de um ente perdido: aniversário, festa e vida marcam esse cenário perfeito. E, no último verso, o poeta confirma a perene alegria de todos aliada à escolha de uma religião qualquer que, para ele, pouco importava se a tinha ou não – pois a felicidade dependia da própria felicidade em si, do momento do aniversário, não de algo externo como a religião. Enumeramos os versos de cinco em cinco e constatamos que o número de versos é quarenta e cinco.

Para uma proposta de análise interpretativo-estilística, temos: O apelo à infância do poeta é extremamente reforçado com a imagem lúcida do segundo verso da primeira estrofe, com a consciência de um adulto que está em estado de convalescença, um estado claro de volta à infância. A imagem exposta nos primeiros versos expõe esse modelo de felicidade simples, o poeta afasta o que para ele seria ruim: os infortúnios ou as experiências renegadas pelo próprio.

Por que o poeta era feliz quando criança? A segunda estrofe é desenvolvida em torno desta questão. A repetição do verso “No tempo em que festejam o dia dos meus anos” será freqüente, transmitindo assim a lembrança mais viva do aniversário. Naquele tempo de criança, o eu lírico era saudável, pois não percebia coisa alguma, e era inteligente para toda a família, “o menino especial dos pais”, apresentado respectivamente no segundo e no terceiro verso. O eu lírico não tinha as esperanças que os outros tinham por ele porque era a própria esperança, a criança sempre fora símbolo de mudança, de renovação e de esperança para um futuro. A vida tão complexa do adulto, a visão reducionista de alguns, tudo isso faz com que o eu lírico questione-se e indaga-se sobre tudo, sobre a esperança dos homens, o sentido da vida, etc. Qual sentido da vida para criança senão viver e sonhar a eterna novidade do ser?

A terceira e quarta estrofes são desenvolvidas com base em uma consciência do passado que é estruturada a partir de comparações de como o eu lírico era quando criança e como ele é hoje em seu presente, adulto. É melancólica a descrição do que o poeta é hoje – adulto –, revelando assim a idéia de que a infância sempre será o modelo ideal de vivência, de beleza.

Na quinta estrofe, o eu lírico sente-se desconfortável diante de sua situação atual e também sente um desejo físico da alma de se encontrar naquela situação novamente. A imagem que encerra a estrofe é genial: ele deseja comer o passado “como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!”. A manteiga é escorregadia, melosa, deveras trabalhosa para se largar onde se fixa. Comer o pão demonstra o desejo retumbante de sentir toda àquela massa que envolvera as experiências primeiras do eu lírico.

A sexta estrofe é caracterizada como uma alegoria geral da cena do aniversário: “Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…”. A cegueira é excitada por meio de uma volta iluminada da lembrança do poeta, luz tão nítida quando a do Paraíso de Dante. As riquezas de detalhes dessa estrofe salientam o olhar que a criança tem das coisas e também a da memória do adulto que as recorda claramente como se estivesse vivendo tudo aquilo de novo. Nas duas últimas estrofes do poema, o eu lírico queixa-se do seu coração, e diz que não faz mais anos, dura. Os dias passam para ele como os de um morador de uma pequena cidade – passam. Ele espera a chegada do fim: mais nada. É relevante prestar atenção na métrica desses versos que são visualmente menores em relação aos outros, como se mostrassem os últimos momentos de fôlego do eu lírico cansado de não ser mais quem fora maravilhosamente no passado, na infância.

Pessoa e Bandeira: Atravessa-me Portugal como o Brasil

Desde Camões, vê-se clara a influência Lusitânia na poesia brasileira – assim como aporta um estudo de Gilberto Mendonça Telles (1973) em Camões e a poesia brasileira. O biógrafo brasileiro de Pessoa, José Paulo Cavalcanti Filho (2011), na sua monumental obra Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, além de aproximar o poeta português dos leitores brasileiros, estreita os laços entre o escritor lusitano e os poetas modernistas do Brasil, como Vinícius, Drummond e Bandeira – realçando semelhanças nos versos e nos temas.

A biografia de cada autor mostrou que, além de suas obras possuírem um diálogo íntimo, a vida dos poetas também foi bastante parecida. Pessoa, desde cedo, sentiu-se diferente dos demais – exilado ou não, e Bandeira, por causa da doença, isolou-se do mundo para encontrar a cura na Europa, cura encontrada, não no mundo, mas na poesia. Os biografemas, ou traços biográficos presentes na obra de cada poeta, são muito presentes. A diversidade poética de Pessoa ortônimo (poeta contido, escultor de versos regulares e rimados, autor de Mensagem e Cancioneiro, este nome remetendo à tradição – para o Álvaro de Campos, com aqueles versos livres, longos, contando e cantando, também pode ser comparada a de Bandeira – se nós pensarmos no livro Cinza das horas (fortes traços simbolistas e parnasianos) e, bem depois, Libertinagem (livro de poemas magistralmente composto em versos livres e com aspectos do modernismo brasileiro. Dois versos, em cada um dos poemas, podem dar as mãos para um conversa amigável entre os poetas Pessoa e Bandeira; verso de Álvaro de Campos, Aniversário:

A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça […]

E de Manuel, Consoada, do livro Opus 10:

    A mesa posta,

10 Com cada coisa em seu lugar.

A construção sintática é quase a mesma – a ideia é espantosamente semelhante. O tema da infância perdida, a imagem da morte, também são símiles ao do poema do poeta brasileiro. O leitor atento percebe que, nesse caso, e em muitos, a poesia portuguesa não está muito distante da nossa, brasileira, e os diálogos acontecem, seja à noite ou pela manhã – caberá ao professor estabelecer essa relação amistosa, sem colonização, articulando o poema com as partes e o todo.

A mesa posta com mais lugares de Álvaro de Campos, heterônimo de Pessoa, e A mesa posta,/Com cada coisa em seu lugar. de Manuel Bandeira, estão à espera do leitor para que ele possa sentar-se e conversar um pouco mais, sem pressa, num tempo eterno, pois, se cada coisa está em seu lugar e, a mesa tem mais lugares, sempre haverá espaço para a crítica, o professor e o aluno – e o assunto será o aprendizado e a experiência. Jorge de Sena, autor do poema em louvor ao Brasil, Tal pai Tal filho sentou-se à mesa, mas não como pai ou filho, e sim como irmão. Pessoa representa esse corpo português no Brasil e, Bandeira, que a brisa do Brasil beija e balança, fecundou esse corpo em espírito e esse brasileiro fora feito do mais sublimes materiais: corpo e canção.

Referências bibliográficas 

BANDEIRA, Manuel de. Estrela da vida inteira. 2ed. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1970.

CÂNDIDO, Antônio. O estudo analítico do poema. São Paulo: Humanitas Publicações, FFLCH/USP, 1996.

COELHO, Nelly Novaes. O ensino de literatura: comunicação e expressão. 2ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.

FILHO, José Paulo Cavalcanti. Fernando Pessoa, uma quase autobiografia. São Paulo: Record, 2011.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Melo. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

PESSOA, Fernando. Poesia de Álvaro de Campos. São Paulo: Martin Claret, 2006.

TELES, Gilberto Mendonça. Camões e a poesia brasileira. MEC – Deptº de Assuntos Culturais, 1973.

Anúncios

A vida imita a arte

22 sexta-feira jul 2011

Posted by Rudinei Borges in + Cinema, + Política & Sociedade

≈ Deixe um comentário

Tags

cinema, futebol, Política, teatro

Por Hermogenes Saviani Filho

A maior parte da ficção é baseada em fatos reais, mas em alguns momentos o sinal é invertido. Em 1971, o italiano Elio Petri dirigiu uma das maiores obras primas do cinema político: Investigação Sobre um cidadão Acima de Qualquer Suspeita. No filme, um inspetor de polícia (Gian Maria Volonté) assassina sua amante (Florinda Bolkan) sob alegação de que ela o humilhava com seus comentários enquanto estavam em seu ninho de amor. O personagem não tem qualquer preocupação em apagar suas impressões digitais, aliás, após cometer o crime ele não apenas se dirige ao banheiro para tomar banho como faz questão de tocar nos copos e garrafas com o objetivo de deixar suas digitais registradas. Para finalizar, ele sai naturalmente do apartamento e se deixa ser visto por um morador, que será incriminado pela morte da amante. O motivo de tanta confiança é por que ele está numa posição muito influente, acima de qualquer suspeita, trocando em miúdos seu cargo o coloca na posição em que ninguém ousa denunciá-lo.

A película é uma crítica ao autoritarismo e um alerta contra a censura. Volonté é manipulador, arrogante e utiliza sua posição para submeter seus subordinados, pois todos têm medo de perder o emprego. Elio Petri faz uma metáfora sobre o poder da manipulação, onde pessoas que exercem cargos influentes os utilizam para passar por cima do óbvio ululante.

Lembrei imediatamente desta obra depois de ler o perfil de Ricardo Teixeira, Presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), escrito pela jornalista Daniela Pinheiro para a Revista Piauí (nº 58). O que existe é um poço de arrogância, prepotência, vulgaridade e a certeza de estar acima do bem e do mal. Além dos vários palavrões pronunciados em vários trechos da matéria, o mandatário da CBF ameaça veículos e profissionais da Imprensa que ousam criticá-lo e/ou denunciá-lo. Os exemplos são fartos durante as nove páginas do extenso perfil. Em 2001, durante a CPI da Nike, o Globo Repórter apresentou uma reportagem em que mostrava que a renda de Ricardo Teixeira era incompatível com seu padrão de vida. O que o alcaide da CBF fez: anunciou uma mudança no horário de uma partida do Brasil contra a Argentina. O jogo que seria exibido após a novela das oito foi transferido para às 19h45. “Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?”, perguntou à jornalista. A Globo, por transmitir a partida, teve um enorme prejuízo por ter que deixar de apresentar anúncios no horário nobre. O moral da história é que a “vênus platinada” parou de apresentar reportagens que desagradassem o mandatário da CBF. A entrevista é perfilada por pérolas do gênero e conclui com a maior de todas: “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em 2015. E aí, acabou.” Este é o homem que preside o Comitê Organizador da Copa do Mundo, que gere o meu, o seu, o nosso dinheiro; pois os investimentos públicos envolvidos no Mundial serão de bilhões de reais, tais como isenções de impostos, contratação de empresas e serviços a toque de caixa – sem licitação – entre outros.

Uma peça de teatro que está em cartaz no Teatro Eva Herz, ilustra bem o que foi escrito nos parágrafos acima. Um Porto para Elizabeth Bishop apresenta o período da vida em que a poeta estadunidense viveu no Brasil, entre 1951 e 1966. O monólogo, interpretado pela excelente Regina Braga, mostra as contradições do brasileiro e do Brasil. Ao mesmo tempo em que a escritora sente repulsa pelo pouco caso do governo em relação às coisas básicas, como saúde e educação e ao descaso da população em relação à política em contraste com a exagerada importância dada ao futebol; Bishop encontra no carinho dessa mesma população e na paisagem do País a tranqüilidade para amar e escrever. A força para superar as idéias de suicídio, o alcoolismo crescente e a autocrítica que a impedia de escrever e se apresentar em público.

A peça é permeada de críticas à nossa elite –econômica e política – que é apresentada como ignorante e sem cultura, bem representada pelo retratado na Piauí. Além disso, fica evidente a locupletação do Estado por parte dessa casta de privilegiados e o amálgama do público com o privado.  Mas, primeiro a acolhida e depois o relacionamento que a poetisa manteve durante 15 anos com a influente arquiteta Lota Macedo Soares é mais uma contradição que existe dentro desse imenso Brasil. No final, mais uma contradição, como um país que tem um povo tão acolhedor banalizou tanto a violência nas últimas décadas?, pergunta Bishop. Na verdade, só responderemos a esta questão quando deixarmos de aceitar passivamente os desmandos, como o do senhor relatado parágrafos acima.                    

A entrevista

01 sexta-feira jul 2011

Posted by Rudinei Borges in + Cultura, + Mundo

≈ 1 comentário

Tags

2010, aquecimento global, conto, desemprego, entrevista, tempos modernos

Por Sidnei Vares

 O ônibus trepidava enquanto sua cabeça se chocava repetidamente contra o vidro, ainda que isso não incomodasse seu cochilo. Algumas gotas de suor escorriam por sua testa devido aos raios de sol que invadiam o corredor do veículo e justamente do lado onde ele estava sentado. Foi quando o sono inabalável que o arrebatara se viu interrompido por uma voz que lhe pareceu, num primeiro momento, longínqua, e que se confundia com a música clássica que escutava. – Próximo ponto: Complexo Comercial Nova Era! Disparou o sistema de som do ônibus. Como que despertando de um transe profundo, ele subitamente arrancou os fones de ouvido e levantou se dirigindo a porta de traseira do ônibus. Mas a aglomeração de pessoas e o pouco tempo que tinha para descer no ponto correto o forçaram a descer um ponto adiante. Saiu correndo e deixou cair suas coisas na calçada. Apanhou-as. Olhou o relógio e percebeu que já era 09h15min. Estava quinze minutos atrasado para a entrevista. “Isso não vai pegar bem”, pensou. Apressou passo. Adentrou o saguão do edifício e anunciou ao porteiro eletrônico o motivo de sua presença. – Vim para a entrevista. Pôs o polegar no identificador e teve a entrada autorizada. E ali mesmo ele foi informado sobre a sala a qual deveria se dirigir. Bloco 2, 3° andar, sala 56. Foi repetindo baixinho, para não esquecer, enquanto caminhava para os elevadores. Entrou no elevador e olhando para o espelho ajeitou a gravata. Estava suado. O sensor do recinto marcava 33 graus. – Manhã quente! Disse ele, fitando a moça ruiva que segurava uma pasta entre os braços como se fosse um filho. Ela só consentiu com a cabeça e tornou a olhar para o chão, o que o levou a fazer o mesmo. Enfim, as portas de seu andar se abriram e ele saiu lépido, não sem antes olhar o decote da moça. Voltou a olhar para frente e avistou a sala 56. Um amontoado de gente, quase uma fila, atrapalhando a entrada. Não titubeou. Pediu licença e entrou. A secretária, uma senhora arrumada e de cabelos presos, sentada quase em frente à porta, lhe perguntou: – Veio para entrevista? Seu nome, por favor! Verificou na agenda eletrônica e logo depois voltou a falar: – Tenha a bondade de esperar na fila, já vamos chamá-lo. Por um minuto se sentiu tranqüilo. Não estava tão atrasado quanto pensava. Mas quando deu os primeiros passos para no sentido da fila, a tal secretária voltou a falar-lhe em tom irônico, quase repreensivo: – Está atrasado, mocinho! Continuou seu trajeto, sem se importar. O fim da fila é como o fim do mundo, não chega nunca. Percebeu então que o sujeito da frente vigiava de soslaio a expressão turrona da velha secretária. Talvez alimentasse alguma esperança de ser chamado antes, evitando a desanimadora lógica da fila. Perguntou então ao sujeito: – Veio para entrevista? – Sim, e pelo jeito vai ser concorrida! Disse o rapaz de nariz cumprido, percorrendo com os olhos a extensão da fila, que tinha crescido significativamente nos últimos minutos. Percebeu que os primeiros da fila, dentro da sala da entrevista, estavam sentados. Como a sala era pequena, aqueles que estavam fora não tinham onde sentar, pois só havia cadeiras no interior da sala principal. Bem, só restava esperar. Se na sua retaguarda a fila parecia crescer, a sua frente passou a diminuir. As pessoas iam saindo uma a uma da sala de entrevistas. Algumas cabisbaixas. Outras com sorrisinhos sarcásticos quando passavam pelos esperavam. Enfim, conseguiu chegar à parte de dentro da sala principal e sentar-se. Lá havia uma porção de saletas. Era nesta saleta que a entrevista aconteceria. Olhou para dentro tentando avistar o rosto do entrevistador, mas era impossível. Viu apenas sua mão sobre a mesa. Pensou como seria estar lá dentro. O que será que ele iria lhe perguntar? Não tinha jeito. Ele teria que esperar para saber. Na mesa a frente havia revistas espalhadas. Puxou uma revista para passar o tempo. O destaque da capa era sobre um escândalo político, extravio de dinheiro público. Preferiu não ler. Folheou as páginas. Uma reportagem falava sobre o aquecimento global no século XXI e como a temperatura aumentou nos últimos 50 anos. Algumas páginas a frente outra matéria falava do desemprego gerado pelas novas tecnologias. Robôs que ministravam aulas, dirigiam, atendiam pessoas, etc. “Onde vamos parar”, refletiu. Colocou a revista na mesa e pensou no seu pai. Dizia que na sua época já se falava em desemprego, efeito estufa, corrupção e que também se enfrentava horas na fila ou mesmo ônibus lotados. Nesse ponto nada havia mudado. Passou as mãos da cabeça e respirou fundo. Queria ver-se livre logo daquele lugar. Foi quando a secretária o chamou: – Rapaz! É sua vez. Mas antes tenha a bondade de assinar esses papeis aqui. Ele apanhou uma caneta na mesa, assinou os papeis e caminhou para a saleta das entrevistas. Quando ia entrando foi chamado novamente pela secretária que, desta vez, parecia misturar graça com desdém: – Mocinho, mocinho, você colocou a data errada! Você colocou 1910, estamos em 2010! Você está com a cabeça na lua? Ele então sorriu, apanhou novamente a caneta sobre a mesa e por cima do que havia escrito, forçando a mão, escreveu com letra graúda: 2010.

A Revista

  • A revista
  • Colaboradoras
  • Colaboradores
  • Sidnei Vares

Colunas

  • + Cinema
  • + Comunicação & Mídia
  • + Cultura
  • + Educação
  • + Literatura & Artes
  • + Livros
  • + Música
  • + Mundo
  • + Política & Sociedade
  • Literatura
  • Política
  • Sem categoria

Últimos artigos

  • CINEMA & DEBATE UNIFAI
  • PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO E SOCIAL -UNIFAI
  • O que pode dar certo?
  • CINEMA & DEBATE UNIFAI
  • Celular, individualismo e alienação

+ Já publicamos aqui

  • agosto 2012
  • julho 2012
  • junho 2012
  • maio 2012
  • abril 2012
  • março 2012
  • fevereiro 2012
  • janeiro 2012
  • dezembro 2011
  • novembro 2011
  • outubro 2011
  • setembro 2011
  • agosto 2011
  • julho 2011
  • junho 2011
  • maio 2011
  • abril 2011
  • março 2011
  • fevereiro 2011
  • janeiro 2011
  • dezembro 2010
  • novembro 2010

+ Museu de tudo

AI-5 Alberto Dines Alemanha arte Baudelaire beleza belo Brasil CBN cinema cultura Democracia Dilma Roussef Ditadura Militar no Brasil Documentário E-mail educação engajamento estética Existencialismo Fernando Pessoa Filosofia Folha de São Paulo Geise Arruda História Hitler Iluminismo Individualismo Internet Jean-Paul Sartre Jornal Estado de São Paulo José Serra kant Liberdade Literatura Marketing político Markun Marx Miriam Leitão Miséria da poesia modernidade mulheres Mídia nazismo Nouvelle Vague Novos poetas Observatório de imprensa oriente médio Platão Poesia Poesia Brasileira Poesia portuguesa Poetas Política professor PSDB PT Religião Renato Russo Rudinei Borges Sidnei Ferreira de Vares sociedade sociologia São Paulo Talibã teatro Terrorismo TV Cultura Uniban UNIFAI Veja Vida violência África Época
Anúncios

Blog no WordPress.com.

Cancelar