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Kant e a “revolução copernicana” em estética

24 sexta-feira jun 2011

Posted by Rudinei Borges in + Cultura, + Educação

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arte, beleza, beleza aderente, beleza livre, belo, estética, juizo de gosto, kant

Por Sidnei Vares 

O filósofo alemão Emannuel Kant representou uma grande guinada para a filosofia alemã, até ali relegada a um  segundo plano na Europa.

Kant não só colocou o pensamento alemão na ordem do dia, como fora responsável por superar a aporia existente entre o empirismo inglês e o racionalismo francês por meio de seu criticismo e, correlatamente, recuperar a filosofia do “golpe” gerado pelo ceticismo de David Hume.

Ao afirmar que os homens dispõem de uma “razão pura”, ou seja, uma razão que ainda não tomara contato com o mundo objetivo e que não passara pela experiência sensitiva, Kant defende que temos categorias e formas a priori que, apesar de não constituírem um conhecimento, servem com uma espécie de estrutura organizatória de todos as sensações que são apreendidas por meio dos sentidos.

Para Kant, nossos sentidos são responsáveis por apreender as sensações (visuais, auditivas, olfativas, etc.), porém, não conseguem chegar à essência (númeno) dos objetos dos quais emanam essas sensações. Em outras palavras, nossos sentidos operam no campo fenomênico e, desse modo, só podem apreender sensações emitidas pelos objetos sem saber realmente o que estes são em si mesmos. Se os sentidos são incapazes de conhecer os objetos em si mesmos, nossa razão também é incapaz de conhecer o transcendente. Esse discreto resumo da teoria kantiana também teve impactos sobre o campo estético e o estudo da beleza.

Como demonstra Ariano Suassuna, no que concerne à questão estética, Kant também promoveria uma verdadeira revolução, pois, até aquele instante, vigora no pensamento estético certa tendência objetivista. Essa pode ser resumida pela presença da beleza no objeto. Kant foi responsável por subverter essa lógica. A visão objetiva da beleza permitiu aos antecessores de Kant vislumbrarem a possibilidade de definir o belo.

Todavia, para Kant a beleza não é propriedade do objeto, mas é antes resultado de uma construção do sujeito em relação com o objeto. Temos assim uma postura subjetivista. Mas Kant acredita que não é possível que os problemas estéticos sejam resolvidos, isso porque reconhece uma discrepância entre juízos estéticos (de gosto) e juízos de conhecimento.

Os “juízos de conhecimento” emitem “conceitos” que possuem validade universal, pois se baseiam em propriedades do objeto. Quando digo: “Esta rosa é branca”, estou emitindo um juízo de conhecimento, cujo resultado é um conceito indiscutível no qual todos atestariam sua validade. Os “juízos estéticos”, por sua vez, não emitem conceitos, mas apenas decorrem da simples apreensão pessoal do contemplador diante do objeto (que não está relacionada às propriedades que o compõe). Quando digo: “Esta rosa é bela”, este juízo exprime somente o fato de que tal rosa me agrada, ou seja, me agrada. Portanto, o “juízo de gosto” difere do “juízo de conhecimento” pelo fato de ser subjetivo.

Então fica a dúvida: o fato do juízo estético ou de gosto ser subjetivo não produz um relativismo? Afinal, o que agrada a mim pode não agradar o outro. Kant procura responder essa objeção.

Embora o “juízo de gosto” seja subjetivo, resultante de uma sensação de prazer que o sujeito sente diante de um objeto (por exemplo, um quadro), isso não significa que seja relativo, pois aquele sujeito, segundo Kant, não se conforma que o quadro seja belo somente para ele. Em outras palavras, mesmo se distanciando de um juízo de conhecimento, pois não se baseia em conceitos, mas em sensações de prazer ou desprazer, o juízo estético exige validade universal tal como aquele. Quando digo: “Esta rosa é bela”, pois é agradável, estou dizendo que é agradável para mim e para os demais, mesmo que não possa conceituá-la e explicar por que ela é agradável para todos. Conquanto o juízo emitido seja subjetivo, pois decorre do sujeito, este quer torná-lo um conceito objetivo. A beleza (satisfação determinada pelo juízo de gosto) é aquilo que agrada universalmente sem conceito, ou seja, é um universal sem conceito. Eis ai o paradoxo kantiano, a saber, como podemos ter uma verdade universal sem conceito, produzida subjetivamente a partir de uma sensação de prazer?

Ora, Kant responde que a beleza, produzida subjetivamente a partir de uma sensação de prazer, pode ser universal na medida em que todos os homens comungam do juízo de gosto. Em outras palavras, o juízo estético ou de gosto é uma categoria presente em todos, o que impede o risco de relativismo. O fato de um quadro ocasionar prazer a um indivíduo é comum a todos os indivíduos.

Então, podemos afirmar que a beleza é uma necessidade subjetiva que nos aparece como objetiva, pois é comum a todos os indivíduos. O fato de todos os homens disporem dessa faculdade de julgar esteticamente é que dá ao sujeito a legitimidade de, ao experimentar prazer, por exemplo, diante de um quadro, exigir o assentimento de todos os outros homens. Segundo Kant o juízo estético tem uma característica básica: ele é gratuito. Quando estou diante de uma obra-de-arte e sinto-me agraciado por sua beleza, não há nisso um propósito, tendo em vista que a beleza não visa satisfazer nenhuma inclinação, pois se trata de um sentimento puramente contemplativo, um prazer desinteressado.

Para se compreender melhor esse processo, cumpre recordar a separação entre finalidade de fim proposta por Kant. Um objeto pode ter um fim (utilidade prática). Posso, por exemplo, dizer que uma faca tem o fim de cortar. Mas o objeto de beleza não tem um “fim”, pois a contemplação da beleza é sempre gratuita. Uma obra bela pode ter “finalidade”, que para Kant diz respeito “a alguma coisa que o sujeito descobre no objeto que tem o dom do excitar harmoniosamente suas faculdades”. Temos então o “fim” ligado às propriedades do objeto e à sua utilidade e a “finalidade” ligada ao sujeito e à sensação de prazer harmonioso que ele experimenta por meio da “simples apreensão da forma” do objeto. Todavia, Kant distingue a “beleza livre” da “beleza aderente”. Enquanto esta se caracteriza pela confusão entre fim e finalidade (arte figurativa), aquela se define como desprendida de influências ou pré-conceitos (arte abstrata). Por exemplo, ao olharmos uma pintura de uma locomotiva sempre teremos em vista o fim útil do trem real. Em outras palavras, a beleza do quadro é turvada pelo conceito que temos de uma locomotiva real, ali representada, atrapalhando a fruição. O mesmo não se dá quando uma pintura apresenta somente formas geométricas, já que a contemplação e mais desinteressada. É como se Kant estivesse dizendo que a “beleza aderente” não é completamente pura, enquanto a “beleza livre”, por não estar presa a conceitos, é pura. Essa teoria kantiana da “beleza aderente” e da “beleza livre” explica o avanço da arte contemporânea, onde as formas, as cores, os materiais, etc., são mais importantes do que figurações propriamente ditas.

Referências bibliográficas

BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 1985.

BASTIDE, Roger. Arte e Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, [s\d]. BASTOS, Fernando. Panorama das idéias estéticas no ocidente: de Platão a Kant. Brasília: EUB, 1987.

CAUQUELIN, Anne. Teorias da Arte. Traduzido por Rejane Janowitzer. São Paulo: Martins Fontes, 2005. COLI, Jorge. O que é arte. 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008.

DUARTE, Rodrigo (Org.). O Belo Autônomo: textos clássicos de estética. Belo Horizonte: UFMG, 1997.

DUFRENNE, Mikel. Fenomenologia e experiência estética. São Paulo: Perspectiva, 2001.

LACOSTE, Jean. Filosofia da Arte. Traduzido por Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. 

KIVY, Peter (Org.). Estética: Fundamentos e questões da filosofia da arte. São Paulo: Paulus, 2008.

NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo: Ática, 2006.

 OSBORNE, Harold. Estética e Teoria da Arte. Traduzido por Octávio Mendes Cajado. 2. ed. São Paulo: Cutrix, 1974.

PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. Tradução Maria Helena Nery Garcez. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

PINA, Álvaro. O Belo como categoria estética. Lisboa: horizonte universitário, 1982.

ROSENFIELD, Kathrin. Estética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 9 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.

VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Convite à Estética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.

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Introdução à estética platônica

14 segunda-feira mar 2011

Posted by Rudinei Borges in + Cultura, + Literatura & Artes

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arte, belo, pensamento estético, Platão

Por Sidnei Ferreira de Vares

Como afirma Jean Lacoste, se a filosofia da arte começa com Platão (e de fato isso é verdade se considerarmos seus escritos), ela principia com a condenação da arte. Embora Platão tenha nascido, crescido e vivido numa época em que Atenas respirava a reformulação processada por Péricles, inclusive do ponto de vista das belas artes, e tenha recebido, como grande parte dos jovens de sua época, uma educação que conferia um lugar proeminente aos poetas (principalmente Homero e Hesíodo), vai voltar-se contra a poesia, a pintura, o discurso escrito, a escultura e os cenários dos teatros.

A compreensão da beleza em Platão passa necessariamente por sua teoria das idéias, sem a qual fica difícil alocar e discorrer sobre o belo. Como afirma Ariano Suassuna, a teoria platônica da arte e da beleza está atrelada a sua visão de mundo. Como é sabido, Platão divide o universo em dois mundos: como diz Ortega y Gasset, o mundo em ruínas e o mundo em formas. Aquele é o que temos diante dos olhos, um mundo de transformações e mudanças intensas, onde nada permanece e tudo se esvai, no sentido mais típico do pantha-rei heraclitiano, o mundo da feiúra e da decadência. Este, por sua vez, é o mundo do autêntico, das idéias puras ou essências, do eterno e imutável que existe e sempre existirá, no sentido proposto por Parmênides e pela exatidão da matemática que Platão tanto admirava. O mundo das idéias no qual a verdade, a beleza e o bem são essências superiores, arquétipos imutáveis que servem de formas, modelos às coisas do mundo do sensível, este marcado pela mutabilidade, pela imperfeição. E tendo como pano de fundo esse sistema binário que Platão refletira a questão da beleza. Desde já cumpre lembrar que as alusões deste à arte não se aproximam das modernas concepções de belas-artes. Longe disso, Platão designa arte tudo aquilo que se refira a um saber-fazer, ou seja, a uma ação puramente técnica que se estende a muitas áreas como a política, a poesia, a marcenaria, a retórica, etc. Platão está longe de partilhar da mesma visão dos modernos no concernente à arte, sendo, portanto, porta-voz de uma cultura que relaciona arte e técnica, usando um conceito por outro.

Em sua obra A República, Platão, por meio de Sócrates, erige uma sociedade próxima da perfeição cujo fio condutor é a justiça. No livro X da referida obra, Platão alerta sobre o perigo que os poetas representam para seu intento, sendo a poesia definida como arte da imitação ou mimese.

A mimese ou imitação, nos diz Harold Osborne (1974: 52), se desenvolveu entre os séculos sexto e quinto a. C. na Grécia, e pode ser encontrada em manifestações artísticas distintas, como a escultura, a pintura, cenários, etc., tendo por escopo  reproduzir similares convincentes dos objetos que representavam. As pinturas e as esculturas eram admiradas pela aproximação com a realidade. O critério utilizado pelos artistas é o da verossimilhança ilusionística, ou seja, de produzir simulacros, sendo que essa técnica perdurou durante toda antiguidade clássica (OSBORNE, 1974: 54-57). Segundo Osborne, Platão utilizava o termo “mimese” para expressar a relação em que determinadas coisas empíricas se encontravam com o conceito geral que as abrange. Todavia, também aplica o termo para falar da poesia, escultura e pintura, e critica principalmente o poeta por iludir os ouvintes, já que se recusa a falar na primeira pessoa dando a entender de que são os personagens que estão a falar.

Como alerta Jean Lacoste, a arte mimética questionada por Platão, tem suas raízes mais profundas na sua concepção do ser e da verdade. Em outras palavras, o ser é aquilo que é justamente porque dispõe de uma identidade ou essência. O ser é então definido como idéia que se opõe ao devir. As essências, compreendidas como realidades perfeitas têm correlatos no mundo sensível. Se um artesão faz uma cadeira, esta só pôde ser feita a partir de uma idéia universal de cadeira. De certo modo, o artesão imita uma idéia que preexiste a cadeira feita por ele. Não foi ele que produziu a idéia de cadeira, mas apenas tentou aproximar-se dessa idéia. Todavia, uma vez concluída a sua obra, esta não é perfeita tal como a idéia que lhe serviu de modelo. Mas embora sua cadeira não seja perfeita como a idéia que a gerou, ela “participa” em algum grau da perfeição da cadeira real (ideal), tendo em vista que a teve como modelo. Ora, o escultor, o pintor, o poeta, são como artífices, pois também produzem objetos, mas, diferentemente daqueles, o fazem por um processo de imitação da imitação, pois têm como modelos não as essências, mas coisas produzidas pelos homens. Um pintor ao pintar um sapato, apreende uma parte da realidade, embora sua pintura nos dê a impressão de totalidade. Ao pintar um sapato, o pintor não sabe fazer um sapato, pois não é sapateiro, mas tem como modelo um sapato produzido pelo sapateiro e não o conceito de sapato.

Para Platão, as essências correspondem à realidade, o trabalho de um artesão corresponde a uma imitação da realidade, enquanto a produção de um escultor, poeta ou pintor uma imitação da imitação da realidade, estando, portanto, mais afastada da realidade, distanciada em relação ao ser. As belas-artes, termo que Platão desconhecia, são simulacros, sendo os poetas simuladores de virtude, e é por isso que o autor faz pesadas críticas a eles.

Na obra O Sofista, Platão divide as artes em duas, a saber: a arte de aquisição (pesca, caça, guerra, etc.) e a arte de produção. Esta última de dividem em duas partes: a arte de produção de coisas reais e a arte de produção de simulacros, no qual se enquadram as belas-artes. Mas a arte de produção de simulacros (mimese), ainda pode ser dividida entre aquelas que procuram produzir o modelo real em sua inteireza e simetria (tamanho, forma) e aquelas que se deviam para a criação da ilusão. A época em que Platão viveu já contava com algumas inovações no que se refere à pintura. Técnicas de perspectiva (profundidade e volume) revolucionam os cenários teatrais e criam falsas impressões sobre a realidade. Platão questiona essas técnicas, pois essas iludem o expectador, que se compara a uma feitiçaria.  Platão, portanto, compara essas técnicas (trompe d´oiel) à arte dos sofistas, cujo objetivo também era ludibriar, gerando falsos prazeres, principalmente quando são avistas a distância, pois de perto podem ser facilmente identificadas. Pintores, poetas, escultores e sofistas são alocados dentro de um mesmo rol: o dos enganadores e, portanto, a arte mimética é vista como uma ilusão que faz esquecer as coisas verdadeiras.

Numa outra obra As Leis, Platão reconhece a importância da música (canto e dança) para a educação dos jovens, mas esse reconhecimento é seguido de sérias ponderações sobre sua utilização, tendo em vista que a música trata das paixões humanas devem ser regulamentadas. A mimese para Platão constitui uma arte de inferioridade ontológica por se afastar das realidades verdadeiras. Mas Platão também institui uma teoria do belo. Ao analisar a questão do belo em Platão, Suassuna afirma que a alma é sempre atraída para a beleza, haja vista ter contemplado no mundo das essências a Beleza Absoluta e dela sentir imensuráveis saudades. A decadência da alma para o mundo sensível, mas precisamente no cárcere que é o corpo, afastou-a de beleza absoluta do mundo das idéias. Algumas almas recordam com maior facilidade do que outras presas à parte material e grosseira da vida. Essa teoria fica mais explicita em duas obras O Banquete e Fedro. Na primeira delas, Platão demonstra que o único caminho capaz de elevar a alma ao mundo das idéias é o amor. Os seres humanos seriam, a princípio, andrógenos e uma vez tendo sido separados, vivem a procurar sua parelha. Essa busca da alma, comentada no diálogo n´O Banquete, é muitas vezes marcada por erros. Platão afirma que os indivíduos inferiores se satisfazem com a forma mais grosseira de amor: o amor físico. Jaeger em sua Paidéia faz um imenso comentário sobre a questão dos corpos belos, que geralmente atraem os homens, mas que não são mais do que a manifestação de um belo absoluto. Ao perceber, por comparação, que a beleza dos corpos participa de uma beleza absoluta, o homem superior libertasse do amor inferior, pois descobre que a beleza dos corpos é passageira e passa a contemplar a beleza em sim mesma desinteressadamente.

Existe, portanto, uma identificação entre Beleza, Verdade e o Bem, pois o belo é uma característica da verdade, sendo por isso boa moralmente. É por esse motivo que a fruição da beleza gera prazer e deleite. A própria sabedoria é amada por sua beleza. Mas a passagem que conduz o ser humano a fruição da beleza absoluta é entendida dentro dos limites da reminiscência, já que essa contemplação é ainda uma recordação do que a alma já contemplou. Na obra Fedro, Platão, pela boca de Sócrates, explora a questão do amor. Mas, embora o amor seja o tema principal do diálogo, nele o Platão explora a questão da beleza. Procurando provar que o discurso de Lísias, segundo o qual é preferível que um jovem belo e amado deve conceder seu amor àquele que não o ama, do que àquele que o ama de fato, declamado no início do diálogo por Fedro, Platão desenvolve a tese de que o amor é a visão do belo excitada pela paixão por meio da reminiscência das visões eternas. A alma, que já teria habitado o mundo das idéias e contemplado a beleza em essência, se compara a uma carruagem, dirigida pro um cocheiro (intelecto) e puxada por dois corcéis alados, um dócil (a coragem), outro rebelde (concupiscência). Quando descontrolada pela concupiscência, a alma pode cair para o mundo sensível e ser aprisionada num corpo. Algumas se lembram das belezas contempladas no mundo ideal, outras têm mais dificuldade. Platão defende que a alma é apaixonada pelo belo e deseja retornar a seu mundo. Segundo Platão (2007: 83) [246 e 247], “O que é divino é belo, sábio e bom. Dessas qualidades as asas se alimentam e se desenvolvem, enquanto todas as qualidades contrárias como o que é feio e o que é mau, fazem-na diminuir e fenecer”. Mais a frente afirma (2007: 91) [254]: “Quando o cocheiro vê o ser amado, a lembrança o reconduz para essência da beleza. Este a revê no santo pedestal, ao lado da sabedoria, e ele se assusta, teme, e necessariamente puxa o freio.E com tal violência o retrai que ambos os cavalos recuam; o bom voluntariamente e sem resistência; o ruim, entretanto, a contragosto”.  Sobre os discursos escritos, tão utilizados pelos sofistas, Platão faz sérias críticas e compara a pintura a sofistica, quando afirma que (2007: 120) [275], “o uso da escrita, Fedr, tem um inconveniente que se assemelha à pintura. Também as figuras pintadas têm a atitude de pessoas vivas, mas se alguém as interrogar conservar-se-ão gravemente caladas. O mesmo sucede com os discursos. Falam das coisas como se as conhecessem, mas quando alguém quer informar-se sobre qualquer assunto exposto, eles se limitam a repetir sempre a mesma coisa”. Como se pode notar, Platão procura aproximar aqueles que enganam, por meio de ilusões discursivas àqueles que ludibriam através da pintura e da poesia, pois tanto num caso como no outro, essas artes não têm como objetivo elevar a alma, mas iludi-la. Isso fica claro quando Platão opõe o discurso sofístico ao filosófico, ao afirmar que “…Os melhores discursos escritos são os que servem para reavivar as lembranças dos conhecedores; só as palavras pronunciadas com o fim de instruir, e que de fato se gravam na alma, sobre o que é justo, belo e bom, apenas nelas se encontra uma força eficaz, perfeita e divina a ponto de nelas empregarmos os nossos esforços; somente tais discursos merecem ser chamados filhos legítimos do orador, gerados por ele próprio, quando esse orador possui um gênio inventivo, e quando nas almas de outras pessoas eles engendram descendentes e irmãos que sejam dignos da família. Quanto aos demais discursos, podemos desprezá-los” (PLATÃO, 2007:123) [277]

 

Referências bibliográficas

BASTIDE, Roger. Arte e Sociedade. Traduzido por Gilda de Mello e Souza. 3. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1979.

BASTOS, Fernando. Panorama das idéias estéticas no ocidente: de Platão a Kant. Brasília: EUB, 1987.

BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 1985.

CAUQUELIN, Anne. Teorias da Arte. Traduzido por Rejane Janowitzer. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

LACOSTE, Jean. Filosofia da Arte. Traduzido por Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.

NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo: Ática, 2006.

OSBORNE, Harold. Estética e Teoria da Arte. Traduzido por Octávio Mendes Cajado. 2. ed. São Paulo: Cutrix, 1974.

PLATÃO. Fedro. Traduzido por Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2007.

_________. A República. Traduzido por Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

_________. Diálogos. Traduzido por Jorge Paleikat. Porto Alegre: Globo, 1964.

_________. Diálogos: Critão, Menão, Hípias Maior e outros. Organizado por Benedito Nunes. Traduzido por Carlos Alberto Nunes. 2 ed. Paraíba: EDUFPA, 2007.

SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 9. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.

VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Convite à Estética. Rio de Janeiro: Civilização  Brasileira, 1999.

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