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Arquivos da Tag: Política

Antes e depois de Nelson Werneck Sodré: o Brasil e a História

06 sábado ago 2011

Posted by Rudinei Borges in + Cultura, + Educação, + Política & Sociedade, Política

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Brasil, História, Historiografia, Nelson Werneck Sodré, Política

Por Sidnei Ferreira de Vares

Poucos historiadores alcançam em vida o reconhecimento profissional. Isto se deve, por um lado, à ausência de uma cultura de valorização dos intelectuais no Brasil e, por outro, ao desconhecimento da profissão de historiador no Brasil. Uma exceção, porém, é Nelson Werneck Sodré. Nascido no Rio de Janeiro em 1911, Sodré se destacaria como um dos grandes pensadores brasileiros, ao lado Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Raimundo Faoro, Gilberto Freyre, entre outros. Sua obra, reconhecidamente uma das mais brilhantes e influentes da historiografia nacional, é composta de inúmeros trabalhos, entre os quais podemos mencionar História da Literatura Brasileira (1938), Panorama do Segundo Império (1939), Oeste — Ensaio sobre a Grande Propriedade Pastoril (1941), Formação da Sociedade, Brasileira (1944), O que se Deve Ler para Conhecer o Brasil (1945), A Ideologia do Colonialismo (1961), Formação Histórica do Brasil (1962), História Militar do Brasil (1965), As Razões da Independência (1965), História da Imprensa no Brasil (1966), Fundamentos da Economia Marxista (1968), Fundamentos do Materialismo Histórico (1969), Memórias de um Escritor (1970), entre outras, e sua última A farsa do neoliberalismo (1995). Essa vasta produção intelectual retraduz o verdadeiro espírito de seu autor: um homem cujo esforço em compreender o Brasil, do ponto de vista da história, foi seu lema. Aliás, mais do que um lema: um imperativo existencial. A militância política no PCB e a fidelidade ao marxismo, que nunca fez questão de esconder, conquanto sua trajetória também inclua a formação militar que recebeu na Escola da Praia Vermelha nos anos 30, sempre foram referenciais importantes às análises que empreendeu. O nacionalismo que defendeu junto ao ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), do qual foi um dos membros mais atuantes, só comprova o papel que o Brasil ocupava entre as preocupações intelectuais as quais se dedicou. Seus ensaios – sempre em tom combativo, mas ao mesmo tempo em consonância com a sua visão de mundo – sempre ofereceram uma farta artilharia aos que discordam do modo de produção capitalista. Falecido em Itú no dia 13 de janeiro de 1999, Sodré completaria, nesse ano de 2011, 100 anos. Conquanto as críticas à perspectiva de análise do autor sejam constantes, é inegável que seus trabalhos trazem a tona uma série de mazelas que afetam a estrutura política, econômica e cultural do Brasil, que vêm de longa data. Daí a valorização do esforço intelectual de Sodré. E se, segundo o dito popular, “recordar é viver”, façamos todos desse dito uma realidade e recordemos o grande brasileiro que foi Sodré, iniciando por essa singela homenagem que nem de longe faz jus à grandiosidade de seu nome. Aos que não conhecem sua obra, insisto na importância de se conhecê-la com vistas a compreender melhor os processos políticos, econômicos e sociais que compõem e influem a história recente de nosso país.

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A vida imita a arte

22 sexta-feira jul 2011

Posted by Rudinei Borges in + Cinema, + Política & Sociedade

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cinema, futebol, Política, teatro

Por Hermogenes Saviani Filho

A maior parte da ficção é baseada em fatos reais, mas em alguns momentos o sinal é invertido. Em 1971, o italiano Elio Petri dirigiu uma das maiores obras primas do cinema político: Investigação Sobre um cidadão Acima de Qualquer Suspeita. No filme, um inspetor de polícia (Gian Maria Volonté) assassina sua amante (Florinda Bolkan) sob alegação de que ela o humilhava com seus comentários enquanto estavam em seu ninho de amor. O personagem não tem qualquer preocupação em apagar suas impressões digitais, aliás, após cometer o crime ele não apenas se dirige ao banheiro para tomar banho como faz questão de tocar nos copos e garrafas com o objetivo de deixar suas digitais registradas. Para finalizar, ele sai naturalmente do apartamento e se deixa ser visto por um morador, que será incriminado pela morte da amante. O motivo de tanta confiança é por que ele está numa posição muito influente, acima de qualquer suspeita, trocando em miúdos seu cargo o coloca na posição em que ninguém ousa denunciá-lo.

A película é uma crítica ao autoritarismo e um alerta contra a censura. Volonté é manipulador, arrogante e utiliza sua posição para submeter seus subordinados, pois todos têm medo de perder o emprego. Elio Petri faz uma metáfora sobre o poder da manipulação, onde pessoas que exercem cargos influentes os utilizam para passar por cima do óbvio ululante.

Lembrei imediatamente desta obra depois de ler o perfil de Ricardo Teixeira, Presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), escrito pela jornalista Daniela Pinheiro para a Revista Piauí (nº 58). O que existe é um poço de arrogância, prepotência, vulgaridade e a certeza de estar acima do bem e do mal. Além dos vários palavrões pronunciados em vários trechos da matéria, o mandatário da CBF ameaça veículos e profissionais da Imprensa que ousam criticá-lo e/ou denunciá-lo. Os exemplos são fartos durante as nove páginas do extenso perfil. Em 2001, durante a CPI da Nike, o Globo Repórter apresentou uma reportagem em que mostrava que a renda de Ricardo Teixeira era incompatível com seu padrão de vida. O que o alcaide da CBF fez: anunciou uma mudança no horário de uma partida do Brasil contra a Argentina. O jogo que seria exibido após a novela das oito foi transferido para às 19h45. “Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?”, perguntou à jornalista. A Globo, por transmitir a partida, teve um enorme prejuízo por ter que deixar de apresentar anúncios no horário nobre. O moral da história é que a “vênus platinada” parou de apresentar reportagens que desagradassem o mandatário da CBF. A entrevista é perfilada por pérolas do gênero e conclui com a maior de todas: “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em 2015. E aí, acabou.” Este é o homem que preside o Comitê Organizador da Copa do Mundo, que gere o meu, o seu, o nosso dinheiro; pois os investimentos públicos envolvidos no Mundial serão de bilhões de reais, tais como isenções de impostos, contratação de empresas e serviços a toque de caixa – sem licitação – entre outros.

Uma peça de teatro que está em cartaz no Teatro Eva Herz, ilustra bem o que foi escrito nos parágrafos acima. Um Porto para Elizabeth Bishop apresenta o período da vida em que a poeta estadunidense viveu no Brasil, entre 1951 e 1966. O monólogo, interpretado pela excelente Regina Braga, mostra as contradições do brasileiro e do Brasil. Ao mesmo tempo em que a escritora sente repulsa pelo pouco caso do governo em relação às coisas básicas, como saúde e educação e ao descaso da população em relação à política em contraste com a exagerada importância dada ao futebol; Bishop encontra no carinho dessa mesma população e na paisagem do País a tranqüilidade para amar e escrever. A força para superar as idéias de suicídio, o alcoolismo crescente e a autocrítica que a impedia de escrever e se apresentar em público.

A peça é permeada de críticas à nossa elite –econômica e política – que é apresentada como ignorante e sem cultura, bem representada pelo retratado na Piauí. Além disso, fica evidente a locupletação do Estado por parte dessa casta de privilegiados e o amálgama do público com o privado.  Mas, primeiro a acolhida e depois o relacionamento que a poetisa manteve durante 15 anos com a influente arquiteta Lota Macedo Soares é mais uma contradição que existe dentro desse imenso Brasil. No final, mais uma contradição, como um país que tem um povo tão acolhedor banalizou tanto a violência nas últimas décadas?, pergunta Bishop. Na verdade, só responderemos a esta questão quando deixarmos de aceitar passivamente os desmandos, como o do senhor relatado parágrafos acima.                    

Como engajar as artes

17 quinta-feira mar 2011

Posted by Rudinei Borges in + Cultura, + Literatura & Artes, + Política & Sociedade

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arte, engajamento, Política, Sartre

Por Thiago Rodrigues

Sartre escreve seu famoso ensaio acerca da pergunta fundamental sobre o que é a literatura como resposta à uma série de críticas que lhe foram dirigidas por defender a literatura engajada. Uma das primeiras objeções que lhe é lançada é se o filósofo existencialista não estaria repetindo o erro dos pintores soviéticos? Ou seja, não estaria o autor instrumentalizando a arte?

Um pressuposto aqui é a identificação entre a literatura e as “outras artes”. Daí a pergunta: Você quer engajar as artes? No que responde o autor, “Não, nós não queremos ‘engajar também’ a pintura, a escultura e a música, pelo menos não da mesma maneira. E por que haveríamos de querer?” Como se todas as artes se equivalessem. Então, Sartre atenta para a especificidade da literatura, em especial, da prosa. Assim, se queremos compreender como se dá o engajamento da pintura segundo o filósofo francês, por exemplo, precisamos primeiramente entender o que difere a literatura das “outras artes”.

Tomemos como fio condutor a esta breve explanação a distinção feita pelo filósofo logo no inicio do referido ensaio, a saber, entre o que ele chama de “palavra opaca”, isto é, a poesia e “palavra translúcida”, ou seja, a prosa. Como foi dito acima, por “palavra opaca” o autor entende a poesia, que é o mesmo que dizer que a poesia se realiza como positividade pura. Mas o que significa afinal dizer que a poesia é positividade pura? Significa que a palavra na poesia não representa algo para além dela mesma, isto é, para o poeta, segundo Sartre, “as palavras são como coisas”. Essa concepção fica mais clara se compreendermos o que o autor entende por “palavra translúcida”. A prosa ou “palavra translucida” é quando a linguagem ganha um caráter, ao menos em certa medida, instrumental, assim, se para o poeta a palavra aparece como coisa, como positividade pura, para o prosador a palavra aparece como pura translucidez, como signo, como uma ferramenta capaz de dizer alguma coisa.

 Desse modo, o escritor (prosador) lida com significados e, portanto, a palavra é sempre um meio para se alcançar algo para além dela mesma. O filósofo chega a afirmar que “a prosa é utilitária por essência: [assim] eu definiria de bom grado o prosador como um homem que se serve das palavras”. Ou seja, se a finalidade da linguagem é comunicar algo para alguém, é necessário também engajá-la. Por quê? Ora, se a prosa sempre comunica algo, e, se o homem está condenado a ser livre, como defende o filósofo, quando se escreve, se escolhe e, ao escolher-se, o homem escolhe por ele e por todos, o homem elege valores e se engaja em algo, mesmo que ele faça isso de forma alienada. Conseqüentemente a prosa carrega sempre um viés ético. No entanto, embora a maior parte dos comentadores defenda que Sartre realiza uma instrumentalização da obra de arte , nossa leitura se adéqua com a concepção defendida por Franklin Leopoldo e Silva em Ética e Literatura em Sartre: Ensaios Introdutórios, na qual, segundo o comentador, há uma relação de interdependência entre o âmbito teórico e o âmbito estético da prosa, e que, portanto, Sartre não negligencia a prosa enquanto obra de arte. O que se evidencia em passagens como esta: “Ninguém é escritor por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver decidido dizê-las de determinado modo. E o estilo decerto, é o que determina o valor da prosa”. Ou então: Lembro, com efeito, que na “literatura engajada”, o engajamento não pode, em nenhum caso, fazer esquecer a literatura e que nossa preocupação deve ser a de servir à literatura infundindo-lhe sangue novo, assim como servir à coletividade tentando lhe oferecer a literatura que lhe convém. Mas isso ainda não responde a pergunta acerca do engajamento das “outra artes”. É que para Sartre, a pintura se assemelha à poesia na medida em que também a pintura, ou a música, não lidam com signos.

Isso soa estranho fora do registro em que o filósofo desenvolve seu pensamento, na realidade, dizer que a pintura não trabalha com signos é o mesmo que dizer que ela é positividade pura, e que portanto, não remete a nada, não é um meio para se alcançar alguma outra coisa. Ou seja, como exemplifica o autor, quando Tintoretto pinta aquele rasgo amarelo no céu sobre o Gólgota, ele não busca significar ou provocar a angústia, como se o amarelo representasse angústia, mas sim, que “ele é angústia, e céu amarelo ao mesmo tempo”. É angústia feita coisa. Essa concepção fica mais clara no caso da música, qual é o significado de uma melodia? O que ela diz? O significado de uma melodia “não é nada mais que a própria melodia, ao contrário das idéias[que é o caso da prosa] que podem ser traduzidas adequadamente de diversas maneiras”. Análoga à música, qual é o significado do angustiante amarelo do céu de Tintoretto? Como traduzir adequadamente essa angústia? Ou seja, o amarelo é a própria angústia feita coisa, assim como uma melodia triste é a própria tristeza materializada. O que o filósofo busca defender, não é que as “outras artes” não possam ser engajadas, é apenas que elas devem ser engajadas de um modo diferente. Mas nossa questão persiste: como engajar a pintura?

Assim, se essa breve explanação não diz o que é a pintura engajada – o que requereria um estudo de mais fôlego –, ao menos podemos vislumbrar aquilo que ela não é. Sendo assim, nem de longe poderíamos aproximá-la às concepções do movimento regionalista brasileiro ou do realismo socialista russo, por exemplo. Portanto, engajar-se não é se filiar a nenhum tipo de cartilha ou preceito prévio, nem tampouco é submeter-se.

REFERÊNCIAS

BORNHEIM, Gerd Alberto. Sartre: metafísica e existencialismo. São Paulo: Perspectiva, 2005. 3. Ed.

LEOPOLDO E SILVA, Franklin. Ética e Literatura em Sartre: Ensaios Introdutórios. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

_______. Literatura e experiência histórica em Sartre: o engajamento. In: Filosofia e Crítica: Festschrift dos 50 anos do curso de filosofia da Unijuí.

PERDIGÃO, Paulo. Existência e Liberdade: Introdução à filosofia de Sartre. Porto Alegre: L&P.M., 1995.

SARTRE, Jean-Paul. Que é a Literatura?. Trad. de Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Ed. Ática, 1989.

Nazismo como concepção ideológica na Alemanha

29 sábado jan 2011

Posted by Rudinei Borges in + Política & Sociedade

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Alemanha, Estado, Ideologia, nazismo, Política

 

Por Fabiano Tizzo

O nazismo surgiu da decadência social da Alemanha e da esperança de um povo sofrido que, no pós-guerra, passava por necessidades básicas e carências diversas. Potencialmente revolucionário e inovador, o Partido Nazista exaltava o passado associando-o a um futuro promissor para toda a nação. Trazia consigo uma concepção materialista, dogmática e doutrinária cuja sustentação justificava a ampla supremacia de um chefe, apoiado na força policial militar e autoritária. Fundamentava pilares que embasavam um fanatismo epidêmico.

Seduzidos pela sugestão de superioridade, os alemães instauraram e difundiram idéias que deram origem ao movimento anti-semita ou anti-semitismo[1]. A adesão a tal movimento levou à racionalidade desse povo à extinção. Além disso, o líder pleiteou ideais de superioridade de sua raça clamada ariana, supostamente superior a todos os outros povos existentes no mundo, e a necessidade de espaço, conservação e melhorias para que se alcançasse “o triunfo” nazista.

Hitler apontou os supostos culpados pelas dificuldades que a Alemanha enfrentava, baseando-se em um dogmatismo direcionado ao extermínio de um futuro mártir: “o povo judeu”. Para o líder, não bastava solucionar a crise, era preciso responsabilizar e punir os culpados por todos os fracassos da Alemanha e as dificuldades que passava o povo alemão.

Alguns historiadores supõem que a assinatura do Tratado de Versalhes foi a base do Partido Nacional Socialista, ou Partido Nazista, estimulando o seu surgimento, uma vez que Hitler sempre criticava o pacto, tendo por objetivo o seu não-cumprimento. Para todas as categorias de chefes desse partido havia autonomia de liderança, mas nunca poder supremo. Apenas o Führer possuía poderes absolutos e adquiriu uma liderança imbatível.

No interior do referido partido, havia procedimentos que resultavam na expulsão, prisão ou morte de membros traidores ou desleais; eram os chamados processos disciplinares. A obediência era absoluta e executada sem questionamentos. A honra, a ordem, a disciplina e a dedicação eram idealizadas e pregadas, e se sugeria uma Nação saudável, forte, poderosa e temida.

O Partido Nazista promovia a vitória do melhor e a submissão do mais fraco, e assim produzia pretexto para justificar possíveis guerras. Qualquer espécie de oposição era duramente reprimida, e os responsáveis levados aos vários campos de concentração, onde eram punidos severamente ou mortos.

O Partido Nacional Socialista jamais conseguiu vencer uma eleição livre, mas Hitler, ocupando o cargo de chanceler (abaixo do presidente), utilizou sua grande influência e finalmente conseguiu a aprovação pela maioria do parlamento da Lei dos Plenos Poderes. Hitler adquiriu um ato de permissão, que deixou sem efeito a Constituição da República de Weimar. Ele obteve o direito de legislar, era o único que podia fazê-lo.

O programa político dos nazistas era sintetizado em vinte e cinco pontos principais (cf. RIBEIRO, 2005, p. 40): 

  1. Reunião de todos os alemães na grande Alemanha;
  2. Abolição do Tratado de Versalhes;
  3. Reivindicação do espaço vital;
  4. Definição de cidadão: só quem tivesse sangue-alemão;
  5. Exclusão dos judeus da comunidade alemã;
  6. Quem não fosse cidadão estaria sujeito à lei dos estrangeiros;
  7. Os não-cidadãos poderiam ser expulsos caso o Estado não tivesse condições de assegurar alimentos à comunidade alemã;
  8. Os cargos públicos deveriam ser reservados aos cidadãos;
  9. Direito e dever de trabalho;
  10. Abolição de rendas não derivadas do trabalho;
  11. Eliminação da escravidão do lucro;
  12. Confisco dos lucros de guerra;
  13. Nacionalização das indústrias monopolistas;
  14. Participação dos trabalhadores nos lucros das grandes empresas;
  15. Incremento da previdência para velhice;
  16. Fortalecimento da classe média;
  17. Reforma agrária;
  18. Punição dos usuários, açambarcadores e traficantes do mercado negro com pena de morte;
  19. Substituição do direito romano pelo direito alemão;
  20. Reforma da escola, direcionando-a no sentido nacionalista;
  21. Proteção da mãe e da criança;
  22. Criação de um exército popular;
  23. Limitação da liberdade de imprensa e de arte;
  24. Liberdade do credo religioso, desde que não contrariasse a moralidade da raça germânica;
  25. Criação de uma forte autoridade central do Reich.

Após a morte do presidente Hindenburg, em Agosto de 1934, um plebiscito foi realizado na Alemanha e o povo aceitou a ditadura de Hitler, com 38.362.760 votos favoráveis e apenas 4.294.654 votos contrários. “Por conseguinte, a Alemanha passou a ser um estado totalitário apoiado por um partido único, o Nacional Socialista, que contava com apenas 25 mil membros até 1927. Em 1938, chegou a reunir 8 milhões”. O supracitado autor escreve ainda: “Contudo, o exército não controla mais o partido, é ele que passa a comandar o exército. Todos os ministérios estavam diretamente submetidos ao controle do Führer”. (RIBEIRO 2005, p. 40-41).

Os direitos individuais não eram levados em conta. O que verdadeiramente preponderava era a idéia de moral nacional, bem como as leis da vida em comunidade sem qualquer liberdade individual, rompendo com a influência das políticas liberalista e comunista.

Resumidamente, esta ideologia se fixava na superioridade da raça alemã e na substituição da luta de classes pela união de todas as categorias para trabalhar pela grandeza da pátria. Estabeleciam-se o culto da força e da vontade de poder, a subordinação do indivíduo ao Estado e a ditadura de um chefe nacionalista e totalitário.

Todos esses acontecimentos parecem ter ocultado a racionalidade do povo alemão, na medida em que o indivíduo deixou de ter a sua individualidade, de pensar em si mesmo e se doou ao Estado, perdendo sua identidade pessoal e inclusive a sensatez. Um dos enfoques do regime em seus discursos indicava que o interesse público do Estado deveria estar sempre acima do interesse particular de qualquer cidadão.

Quem desejasse ser cidadão[2] deveria, antes, servir à Nação sem exigir nenhum tipo de remuneração; isso representava confiança mútua entre a comunidade e o Estado.

Pode-se afirmar que se tratava de um sistema de idéias dogmaticamente organizadas, maquiado como um instrumento de uma luta ética e política. Um conjunto de idéias próprias e disfarçadas de boa moral e conduta nacional, por um homem persuasivo que desencadeou a Segunda Guerra Mundial.


[1] O termo era muito usual na ocasião e significava ser anti-judeu ou estar em contraposição, repúdio e hostilidade aos judeus. Coincide com desrespeito cultural e humano, aos malefícios e todas as formas de sofrimento desse povo ocasionado pelos nazistas. No século XIX essas idéias anti-semitas complementavam e fortaleciam a doutrina nazista. O termo (anti-semita) foi utilizado pela primeira vez em um jornal alemão chamado Neue Freie Presse, escrito por Wilhelm em 1880. Em 1885, o termo passou a ser conhecido como anti-semitismo.

[2] Hitler deixava claro que ser cidadão alemão e pertencer ao partido nazista era gratificante e privilegiável, isso se dava principalmente pela garantia de ser superior. Era uma crença indiscutível naquele contexto. Entretanto, muitos cidadãos alemães sentiam-se auto-realizados com suas promessas, tendo em vista os dias incertos e difíceis que viviam no período: refiro-me à humilhação e desonra pela derrota na guerra, ao orgulho ferido e um período de baixa estima que passavam. Era uma forma de acreditar em algo que pudesse trazer o orgulho nacional de volta. Isso era muito almejado naquele momento em razão das necessidades materiais, afetivas, pelas expectativas devido à nova proposta que visava anos de ouro e vida nova aos alemães. A título de ilustração, o dia primeiro de maio era feriado e simbolizava “O Dia Nacional do Povo Alemão”.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

CHAUI, Marilena. O que é Ideologia. 32ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.

D’ALESSIO, Márcia Mansor; CAPELATO, Maria Helena. Nazismo: Política, Cultura e Holocausto. São Paulo: Atual, 2004.

DIEHL, Paula. Propaganda e Persuasão, na Alemanha Nazista. São Paulo: Annablume, 1996.

 HERF, Jeffrey. O Modernismo Reacionário – Tecnologia, Cultura e Política em Weimar e no Terceiro Reich. São Paulo: Ensaio, 1993.

 HITLER, Adolf. Minha Luta. 5ª ed. São Paulo: Centauro Editora, 2005.

LENHARO, Alcir. Nazismo. O Triunfo da Vontade. São Paulo: Ática, 2003.

 RIBEIRO, João Jr. O que é Nazismo. São Paulo: Brasiliense, 2005.

 SPINDEL, Arnaldo. O que São Ditaduras. 9ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.

 TCHACKOTINE, S. A Mistificação das Massas pela Propaganda Política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1967.

 WILLIAM, L. Shirer. Ascensão e Queda do Terceiro Reich. 5ª ed. Vol. I. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

 ZIEMER, Gregor. Educando para Morte: Aspectos da Educação Nazista. Rio de Janeiro: Editorial Calvino, 1942.

As lições de Édipo-rei

14 sexta-feira jan 2011

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Édipo-rei, Lula, paternalismo, Política, Populismo

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Por Sidnei Ferreira de Vares

Quando Sófocles, eminente teatrólogo grego escreveu a mais importante e conhecida de suas peças, “Édipo-Rei”, provavelmente não imaginava qual o lugar que a história lhe reservava. É que seu texto, pelo brilhantismo com que se refere à força do destino, serviu até para nomear o famoso complexo psicanalítico elaborado por Sigmund Freud, muitos séculos mais tarde. Para quem não conhece ou recorda da história, Édipo, filho de Laios, rei de Tebas que foi amaldiçoado de forma que seu primeiro filho se tornaria seu assassino e desposaria a própria mãe, manda matar seu filho recém-nascido. Salvo por um pastor, que o entregou à Políbio, rei de Corinto, Édipo, anos mais tarde, descobre a maldição e para fugir ao seu destino resolve ir para Tebas, sem saber que ia ao encontro dos pais verdadeiros. E assim como estava previsto, Édipo acaba matando seu pai, sem saber, numa briga de estrada. Assim que chega a Tebas, Édipo livra a cidade da horrenda esfingie e de seus enigmas, recebendo a recompensa: é eleito rei e premiado com a mão da recém-viúva rainha Jocasta. Durante alguns anos governa soberano, até que uma consulta ao oráculo de Delfos lhe trás uma revelação: o assassino de Laios está na cidade de Tebas. Disposto a vingar a morte do antigo-rei de Tebas, Édipo parte numa investigação para descobrir que era o assassino de Laios, sem saber que era ele mesmo. Ao descobrir toda a verdade, Jocasta se mata e Édipo vaza as vistas, ficando cego.

Essa típica tragédia grega, sempre foi vista como uma apologia às forças do destino. Já os psicanalistas, entendem o texto de Sófocles como uma representação das complexas relações humanas, principalmente no seio da família. Mas, conquanto essa seja a interpretação mais usual, penso que podemos transportá-la e utilizá-la no âmbito da política. Digo isso porque, a metáfora da “morte do pai” corresponde a uma busca por autonomia, que conduz as pessoas ao enfrentamento de responsabilidades inerentes à vida adulta.

[Teatro na Grécia Antiga]

Ora, o paternalismo constitui um fenômeno político bastante conhecido na América Latina. No Brasil, onde também é conhecido, muitas vezes se confundiu com as práticas populistas. Getúlio Vargas, que durante o Estado Novo usou de violência para conter os dissidentes, entrou para a história como o “pai dos pobres”. Notem a expressão “pai”, que não foi empregada sem riscos. Ela identifica o que falávamos anteriormente. Sabemos que numa relação entre pai e filhos predomina o amor e o respeito. Quem em sã consciência bradaria contra seu pai? À medida que um político, por meio da afetividade, procura conduzir seus filhos (o povo), quem bradaria contra ele? Essa confusão entre política e afeto (paternal) sempre é muito perigosa.

Nos últimos oito anos, o presidente Lula procurou encetar uma postura bastante paternalista. O tom paternal em seus discursos foi uma constante. Nada contra a figura de Lula, que foi, a meu ver, um bom presidente. Entretanto, isso não impede que façamos críticas ao paternalismo ao qual procurou submeter seu povo (seus filhos). Espero que assim como Édipo, possamos “matar” esse paternalismo em política que volta e meia assombra o ambiente político latino americano. Matar o pai nesse caso significa ver nos políticos apenas o que são: políticos. Só espero que ninguém vaze as vistas depois disso. Na verdade ao invés de ficarmos cegos, deveríamos usar uma grande lupa para enxergar os detalhes dessa mistura sempre perniciosa entre política e afeto.

Entre os “atiradores de elite” e os “atiradores da elite”

03 segunda-feira jan 2011

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ameaça, Democracia, Dilma Roussef, Política, Twiter, violência

Por Sidnei Ferreira de Vares

Alguns veículos divulgaram  nesta segunda-feira que a procuradoria geral da nação vai investigar as ameaças à presidente Dilma Rousseff, postadas no Twiter após as festividades que marcaram sua posse. As mensagens, de teor discriminatório, pedem a um atirador de elite que mate a atual presidente e seu vice.

Claro, podemos afirmar que se trata de uma brincadeira de mau-gosto levada a cabo por gente que não sabe perder. De fato, numa democracia as divergências devem ser tratadas como naturais, pois fazem parte de um jogo onde discussões e embates são conseqüências da pluralidade de pensamentos e posições. Todavia, sempre há aqueles que acham que a verdade é um objeto que se pode encampar. Algumas pessoas acham que realmente detém o monopólio da verdade e, com isso, procuram desvalorizar as posições alheias. Um amigo sempre dizia que existiam três verdades: a minha, a sua e a verdadeira. Tendo a concordar com ele.

A criatura que escreveu as tais mensagens, provavelmente não consegue digerir a vitória de Dilma que, diga-se de passagem, foi honesta e inquestionável. Ora, descredenciar a presidente, e o pior, estimular atos de violência contra ela, é no mínimo descredenciar e violentar os mais de 50 milhões de brasileiros que a elegeram. Disso resulta o ciclo vicioso que relutamos a assumir, mas que infelizmente tem sido parte de nossa cultura política: defendo a democracia, desde que seja o meu candidato que ganhe. É verdade que avançamos bastante, ou seja, que aprendemos algumas coisas nas últimas décadas quanto ao jogo democrático. Mas, ainda assim, o peso da história, da tradição colonialista, paternalista, coronelista, etc., se faz presente quando pensamos em política no Brasil. Penso que algumas pessoas, principalmente ligadas às elites, não se conformam ao ver a popularidade de Lula (87% de aprovação ao seu governo) ou a ascensão de Dilma, ex-guerrilheira que lutou contra a ditadura. Daí o apelo: “Bem agora podia vir um atirador de elite e acertar a cabeça da Dilma, maldita”.

Só tenho uma coisa a dizer ao covarde agitador que escreveu isso, se é que vai ler essas linhas um dia: Não perca seu precioso tempo conclamando, agitando e fomentando a violência. Dilma não vai ser alvo de atirador nenhum. O Brasil a elegeu e poucos são aqueles, mesmo entre os que não votaram nela, que pensam como você. Numa democracia se perde e se ganha. É um jogo e como tal é que crescemos e aprendemos juntos.

Ademais, Dilma vai ter muito trabalho pela frente, pois terá que se desvencilhar dos disparos, provavelmente via imprensa, que serão efetuados pelos “atiradores da elite”, ou seja, aqueles poucos pertencentes às classes mais abastadas, que ainda arrastam o velho ranço contra o comunismo (como se ele tivesse um dia existido), e que vêem em Dilma a representação do mal. Esses disparos, certamente farão mais estragos, pois são mais perigosos, do que aqueles que supostamente partirão do “atirador de elite”. Nosso pobre amigo (não vou chamá-lo de inimigo para não reproduzir o discurso dele), anda assistindo muito filme de ação. Espero que fique só nisso!

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